1980-90s

Com o propósito de contribuir para enriquecer os debates do Encontro Preparatório do Enec+30, esta página será dedicada a relembrar aspectos importantes que marcaram as décadas de 80 e 90 (uma página específica trata dos anos 2000). Os leitores, com seus comentários, poderão complementar as informações.


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Os acontecimentos econômicos, políticos e sociais dos anos 80 foram marcantes para a história do final século XX e início do XXI, mas nossa intenção aqui se limita apenas a relembrar um pouco o clima experimentado pelos que viveram aquela década importante para os movimentos sociais no Brasil, especialmente os estudantis.

 

 Economia


Muitos se referem aos 80 como a década perdida, uma alusão à estagnação econômica vivida especialmente pela América Latina, quando se verificou uma forte retração da produção industrial e um menor crescimento da economia como um todo, volatilidade de mercados, problemas de solvência externa e baixo crescimento do PIB que, no Brasil, registrou inclusive queda. Veio contrapor-se aos anos 70, quando a economia mundial experimentara um ciclo de expansão, o chamado milagre econômico.
A estagnação econômica acarretou elevadas taxas de desemprego, altos índices de inflação, perda do poder aquisitivo. O crescimento da dívida externa acelerou e, consequentemente, o mesmo aconteceu com o déficit fiscal

 

Política


Ao alvorecer da década, governava o Brasil o presidente João Figueiredo, o último dos militares, que prometera, ao assumir o cargo em 1979, “fazer deste país uma democracia”, dando continuidade ao lento processo de abertura política iniciada por seu antecessor, Ernesto Geisel. Veio então a anistia aos políticos cassados pela ditadura e extinguiu-se o bipartidarismo. Políticos históricos voltaram à cena e os exilados começaram a regressar ao país. Os dois partidos existentes, ARENA e MDB, foram rebatizados, PDS e PMDB, respectivamente, e surgiram novos, quando surge o PT, fundado em fevereiro de 1980 e destinado a marcar profundamente a vida política nacional das décadas seguintes.

 

Fatos marcantes

 

Atentado do Riocentro


Assim ficou conhecido o incidente ocorrido dia 30 de abril de 1981, em que uma bomba explodiu num carro parado no estacionamento do local onde acontecia um show comemorativo ao Dia do Trabalhador. Ocupavam o veículo um capitão do exército, que ficou gravemente ferido, e um sargento, que morreu. Frustrava acidentalmente um atentado contra os trabalhadores. Outra bomba foi também lançada na miniestação que fornecia energia para o evento, esta também explodiu fora do alvo e não causou danos. Foi uma tentativa de setores radicais do governo que pretendiam atribuir os atentados à esquerda e provocar a paralisação da lenta abertura política. O tiro saiu pela culatra.

 Tancredo Neves 

 

       

       
 Após imensa movimentação da sociedade em prol das eleições diretas, o primeiro presidente civil após a ditadura foi mesmo eleito pelo Congresso. Mas nem chegou a tomar posse, morreu antes de diverticulite, após longa agonia. Assumiu o vice eleito, José Sarney.

  

Plano Cruzado 

 

      

Na tentativa de frear a inflação galopante, Sarney lançou um pacote de medidas marcadas pela substituição do Cruzeiro, nossa moeda histórica, pelo Cruzado que, no início, teve efeito na contenção dos preços e no aumento do poder aquisitivo da população. Mas o plano provocou uma grave crise de abastecimento e disseminou a cobrança de ágio pelos fornecedores, a inflação voltou a tomar fôlego. Outros planos vieram, como o Plano Bresser e o Plano Verão; foi instituído o Cruzado Novo em 1989 e o velho Cruzeiro voltou em 1990, mas a década fechou mesmo com uma inflação média anual de 330%.

 

A abertura prossegue


 Em 1985, foi extinta a censura prévia, os partidos políticos até então clandestinos foram legalizados e aconteceram as primeiras eleições diretas para prefeitos das capitais após vinte anos. Em 1986, elegeu-se a Assembléia Nacional Constituinte que redigiu nossa atual Constituição e a promulgou em 5 de outubro de 1988. Em 1989, um presidente voltou finalmente as a ser eleito pelo voto direto dos brasileiros, o que não acontecia desde 1960.

 

 Fernando Collor de Mello


      
 
Uma década tão conturbada não poderia terminar menos agitada. Então governador de Alagoas, Collor notabilizou-se como caçador de marajás, funcionários públicos com salários estratosféricos. Em 1989, obteve no segundo turno 5,71% de votos a mais que Lula, após uma campanha polêmica liderada pela Rede Globo. Seu governo foi marcado em 1990 pela extinção de mais de 920 mil postos de trabalho e uma inflação na casa dos 1200% ao ano. Em meio a mais escândalos, renunciou em 29 de dezembro de 1992, para escapar do impeachment. Neste clima, adentramos nos anos 90.

Movimentos estudantis

 

  

Os movimentos sociais começaram a aflorar nesta década, alguns saindo da clandestinidade, outros sendo reorganizados, e criados novos, seja a nível dos bairros, das cidades, dos estados, até os nacionais, como a CUT, em 1983, e o MST, e 1984.

Nessa onda, ressurge a UNE, refletindo a ambigüidade da década. Seu 32° Congresso Geral voltou a acontecer em 1980 a plena luz do dia, com a presença de cerca de 4.000 estudantes de todo o país e o apoio fundamental da prefeitura de Piracicaba e da Unimep - Universidade Metodista de Piracicaba, com o salvo conduto do próprio ministro da justiça. Por outro lado, no mesmo ano, a sede nacional da entidade, que havia sido invadida e incendiada pelos militares na madrugada do primeiro dia do golpe, foi finalmente demolida por ordem do presidente Figueiredo.

Neste mesmo clima, a Ubes começou a se reerguer em 1981, pois não escapou da truculência da cavalaria, que invadiu seu congresso que acontecia na cidade de Curitiba. Não obstante a participação marcante dos secundaristas nas lutas empreendidas a seguir, entretanto, um novo congresso, o 28º, que trouxe de volta plena normalidade à vida da entidade, só aconteceu em 1989.

 

Os movimentos estudantis cristãos, também desbaratados pela ditadura, começaram igualmente a se rearticular. Os católicos iniciaram a discussão sobre a retomada de uma entidade a nível nacional a partir de 1982 e, no final da década, a PJE – Pastoral da Juventude Estudantil do Brasil, já era uma realidade. Paralelamente, num clima de grande tensão, sob ameaças e a proteção da polícia federal, aconteceu em 1983 o primeiro Enec – Encontro Nacional de Estudantes Cristãos, com a participação de católicos e evangélicos, que deu origem ao Cenec – Centro Nacional de Apoio aos Estudantes Cristãos.


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A década iniciou com uma transformação radical no tabuleiro das nações. A queda do Muro de Berlim e a consequente reunificação alemã, celebrada em 3 de outubro de 1990, selaram definitivamente o fim da guerra fria, o mundo não seria mais o mesmo. Caiu o império soviético, a maioria de seus integrantes foram ganhando a independência e elegendo seus governantes, as economias planejadas cederam espaço para a expansão do capitalismo. Quem considerou os 80 década perdida classificou esta como tempos prósperos.

Fernando Henrique Cardoso

Se compararmos os 80 no Brasil ao samba do crioulo doido, os 90 mais parecem o samba de uma nota só, o tom de Fernando Henrique Cardoso.


"Sabe V. Exª que sou defensor do plano. Sabe V. Exª que não sou só eu, mas o meu partido" discursava ele na tribuna do Senado para o presidente Collor em 24 de março de 1990. O plano a que se referia era aquele que confiscaria a poupança, resultaria na extinção de mais de 920 mil postos de trabalho e numa inflação na casa dos 1200% ao ano.

Em 19 de maio de 1993 assumiria o Ministério da Fazenda, já no governo Itamar Franco, vice e sucessor de Collor. Comandou a implantação do plano real até o dia 30 de março de 1994, quando deixou o cargo para se desincompatibilizar e candidatar-se à presidência. Assumiu o ministério Rubens Ricupero, que viria a ser protagonista do escândalo da parabólica, que trouxe à luz as armações da Rede Globo para garantir a eleição do ex-ministro. As explicações e renúncia de Recupero, somadas aos esforços da imprensa para relativizar as revelações, garantiram a FHC derrotar Lula ainda no primeiro turno.

Escândalo da Parabólica

Caracterizaram o seu primeiro mandato, além da consolidação do plano real, a centralidade do programa de privatização das empresas estatais, comandadas pelo Conselho Nacional de Desestatização, e a submissão às políticas recomendadas pelo FMI.

Na área social, o governo FHC introduziu um tímido programa de distribuição direta de renda, o Bolsa Escola, e a Rede de Proteção Social, que incluía o Bolsa Alimentação, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, Auxílio Gás, entre outros.

Para garantir um segundo mandato, promoveu a aprovação de uma emenda constitucional que criou a reeleição para os cargos do executivo, sob acusações de compra de votos de parlamentares. Reeleito, logo de saída, uma forte desvalorização da moeda provocou grave crise financeira e, como conseqüência, elevação dos juros reais aos mais altos patamares de sua história e aumento significativo na dívida interna.

Movimento Estudantil

 
Sede da Une    1964 - incendiada               reclamada          1980 -  demolida

Em 1994, o presidente Itamar Franco assinou um protocolo devolvendo à Une em caráter definitivo o terreno da Praia do Flamengo, local da sede demolida pelos militares havia 20 anos e, depois do ato, foi comemorar de forma descontraída, tomando um chopinho com os estudantes no restaurante Lamas.

Mas esse não foi o tom que marcou as relações do governo com as entidades estudantis nesta década. Os movimentos sociais, em geral resistentes às reformas neoliberais, viram-se marginalizados pela grande imprensa e os governantes, e forçados a lutar para, pelo menos, garantir os direitos reconquistados na década anterior. Assim, para a Une, a época de FHC foi “de embate do governo federal com os movimentos sociais, marcando o período de menor diálogo e negociação da Une com o poder executivo na história, à exceção do regime militar.” A Ubes enfrentou as mesmas dificuldades, mesmo assim conseguiu realizar um congresso expressivo em 1993, em Curitiba, e os secundaristas tiveram forte presença nas lutas sociais, atuando principalmente com bases nas uniões estaduais.

A PJE continuou sua trajetória de consolidação, aumentando seus quadros e definindo sua identidade, cada vez mais integrada às lutas dos estudantes. Aos completar 15 anos, em 1998, estava suficientemente madura para publicar uma Carta Aberta manifestando sua indignação perante o sistema educacional vigente. O Cenec, criado e conduzido na década anterior por estudantes cristãos advindos de seus movimentos, enfrentou dificuldades para se renovar nestes tempos desfavoráveis; entretanto, mesmo com seus quadros agora reduzidos, teve papel decisivo no comitê nacional e na construção do programa de inserção na realidade brasileira que precedeu o Encontro Ecumênico Mundial de Jovens e Estudantes que aconteceu em 1993 em Mendes, RJ.

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